20 fevereiro 2009

Sem álcool, sem divertimento

Reportagem do Público, de 18 de Fevereiro, sobre o álcool e os adolescentes.
Vale a pena ler: AQUI.
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Porque é que o consumo de álcool afecta o feto?


Porque é que o consumo de álcool tem estes efeitos no feto?


Alguns estudos em animais têm sido realizados para tentar perceber os mecanismos de acção do álcool que conduzem ao síndrome alcoólico fetal.

O álcool, pelas suas características quando metabolizado, atravessa facilmente membranas celulares e se difunde por líquidos e tecidos do organismo. Portanto, o etanol atravessa facilmente a barreira da placenta e se distribui no líquido amniótico, chegando ao feto. Após a ingestão de álcool, os nível de etanol no sangue da mãe e do feto são aproximadamente iguais.




As explicações mais aceites na comunidade científica, para o modo como o etanol afecta o feto são:


1. as enzimas do feto são imaturas, como tal, há o acumular de um ácido metabólito do etanol. Este ácido acumula-se nos tecidos do coração, placenta e fígado do feto e podem ser uma das caudas da embriopatia do síndrome alcoólico fetal.





2. o etanol afecta o transporte de aminoácidos através da placenta diminuindo a oferta de nutrientes ao feto, afectando assim a divisão celular e consequentemente o crescimento do feto.



3. quando o etanol se encontra no sangue o fígado consome muito oxigénio para a metabolização do etanol. A falta de oxigénio causa vasoconstrição, o que aumenta a deficiência de oxigénio. Isto pode resultar num colapso momentâneo na vasculatura umbilical e em hipoxia fetal. A hipoxia resulta na diminuição de transporte de aminoácidos e carbohidratos ao feto, o que prejudicará o seu desenvolvimento.





4. o álcool conduz ao aumento de prostaglandinas em vários tecidos e a uma maior produção de AMPc, o que em níveis elevados pode afectar o desenvolvimento do sistema nervoso central.


- Research Society on alcoholism
- Recent Developments in Alcoholism
- Fetal Alcohol Syndrome: MedlinePlus




Efeitos da ingestão de álcool no feto

O síndrome alcoólico fetal é a maior causa de atraso mental no ocidente, ocorre em 30-50% das crianças com mães alcoólicas, em 2-40 por cada 1000 nascimentos em Portugal, 1 / 600 na Suécia e 1 /50 em algumas aldeias indígenas americanas.




Há muitos casos de efeitos do álcool no feto que não são considerados Síndrome Alcoólico Fetal, mas que não deixam por isso de ser graves.
As crianças afectadas pela ingestão de álcool durante a gestação podem apresentar deficit de crescimento, alterações neurológicas e distúrbios de comportamento.



Os CRITÉRIOS MÍNIMOS PARA O DIAGNÓSTICO de Síndrome Alcoólico Fetal são:

. deficit de crescimento pré e/ou pós natal;

. danos no sistema nervoso, atraso no desenvolvimento neuropsicomotor, diminuição do quociente de inteligência, alterações comportamentais;

. dimorfismo facial, pelo menos 2 dos sinais seguintes: microcefalia, microftalmia e/ ou fissura palpebral pequena, filtro nasal hipoplásico com lábio superior fino e hipoplasia de maxilar;


dimorfismo facial




O sistema nervoso é o mais afectado pelo síndrome. O QI dos pacientes com síndrome alcoólico fetal pode variar, mas geralmente está entre 60 e 80%.





Cerca de 80% das crianças afectadas tem microcefalia e problemas de comportamento, e cerca de metade apresentam problemas na coordenação motora, hipotonia, hiperactividade e défice de atenção, malformações cardíacas, malformações vasculares e anomalias a nível de visão e audição.


Com regularidade identificam-se problemas de aprendizagem e memória que podem persistir durante toda a vida.


As crianças expostas ao álcool têm também mais probabilidade de desenvolver desordens psiquiátricas como perturbações de humor, depressão major, perturbação psicótica e bipolar.



19 fevereiro 2009

Põe-te a milhas das Pastilhas!

Partindo do princípio que o conhecimento per se pode contribuir para a mudança de hábitos, um grupo de investigadores em neurobiologia das drogas de abuso do IBMC decidiu dar a conhecer ao público os efeitos das drogas.


Este blog e o website: e-drogas são uma extensão deste projecto.

IBMC

Descobre um pouco mais sobre o Instituto de Biologia Molecular e Celular:



www.ibmc.up.pt

12 fevereiro 2009

O consumo de marijuana e o cancro dos testículos

Um artigo publicado na revista “Cancer” analisou a relação entre casos de cancro dos testículos (TGCT - Testicular germ cells tumors) e o consumo de marijuana.


O uso crónico de cannabinóides têm efeitos adversos no sistema reprodutivo e em vários estudos foi relacionado com a diminuição de hormonas, infertilidade e impotência. A infertilidade masculina e a fraca qualidade do sémen são associados a um maior risco de cancro dos testículos, daí a hipótese do consumo de marijuana como factor de risco.


Cannabis Sativa Koehler - ilustração científica


Um grupo de investigadores do Fred Hutchinson Cancer Research Center conduziu um estudo de controlo de caso, no estado de Washington: entrevistou 371 homens diagnosticados com cancro dos testículos (TGCT), com idades compreendidas entre os 18 e os 44 anos; e 979 homens da mesma região e faixa etária, sem diagnostico conhecido de TGCT, seleccionados aleatoriamente.

Embora mais de 70% dos homens com TGCT tivessem consumido marijuana, a diferença relativamente ao indivíduos do grupo de controlo (sem TGCT), que afirmaram ter consumido marijuana, é de apenas 4,6%.



No geral há uma maior % de homens com cancro dos testículos a ter consumido e a consumir
marijuana, comparativamente com o grupo representativo da população em geral. Estes começaram também a consumir mais jovens e com mais frequência do que o grupo de controlo.


Contudo, os números não falam por si e serão necessários mais estudos para reforçar (ou quem sabe contrariar) estes números.
No resumo do artigo os autores reconhecem que será necessário voltar a testar esta hipótese, nomeadamente através de análises moleculares dos receptores de cannabinóides e outras que possam revelar mais sobre os mecanismos biológicos do cancro dos testículos.


Porque a ciência é feita de pequenos passos...


ver: artigo Público


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Tabaco na universidade


Marina Prista Guerra, uma equipa de investigadoras da FPCEUP realizou um inquérito online na instituição, em Março de 2007, e verificou, de acordo com um artigo publicado pela newsletter da universidade, que “as prevalências de tabagismo quer global, quer por sexo, quer por situação profissional (docente, estudante) são bastante mais elevadas do que as referenciadas noutros estudos portugueses recentes”.

Este estudo foi agora publicado na revista Análise Psicológica e intitula-se “O consumo de tabaco numa instituição universitária: Prevalência e características do fumador” e tem como amostra de 289 indivíduos - estudantes, docentes e funcionários da FPCEUP – de entre um grupo de cerca de 1600 pessoas.



Quase 30% dos inquiridos são fumadores, sendo que a maioria é homem e funcioário– 44,4 % . Os não fumadores são maioritariamente estudantes e mulheres – 65%. Ex-fumadores são 9 %, metade dos quias diz que não voltou ao consumo por verificar os “benefícios de saúde imediatos aliados a uma sensação de liberdade e auto-controlo”.
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Proibição de venda de álcool a menores de 18 anos

O Plano Nacional para a Redução dos Problemas do Álcool está em discussão e uma das medidas em cima da mesa é a proibição da venda de bebidas alcoólicas a menores de 18 anos.

Em Portugal, assim como na Itália e algumas regiões da Espanha, é premitida a venda de bebidas alcoólicas a maiores de 16 anos. Se IDT avançar com esta ideia, a apresentar ao Ministérios da Saúde até 2010, a legislação portuguesa quanto às vendas de bebidas alcoólicas irá convergir com a lei em vigor em quase toda a UE.



O presidente do IDT, João Goulão, disse ao Diário de Notícias que o plano prevê maior fiscalização nos estabelecimentos de consumo e campanhas de prevenção entre crianças, jovens e grávidas.

De acordo com o Público, outra das propostas em discussão é a redução da taxa legal de alcoolémica para novos condutores de 0,5 para 0,2 g/litro de sangue.

Jovens, álcool e publicidade

Um estudo publicado na "BMC Public Health" indica que a exposição a publicidade e marketing de bebidas álcool conduz a um maior consumo de bebidas alcoólicas entre os jovens. O estudo foi uma análise sistemática de trabalhos sobre a relação entre publicidade e consumo de álcool. Lesley Smith e David Foxcroft da Universidade de Brookes em Oxford não trazem nada de novo, centraram-se em sete estudos que encaixavam dentro dos mesmos padrões e metódos e re-analizaram os dados, agora com uma amostra de 13 mil indivíduos entre os 10 e os 26 anos.






O artigo foi noticiado no Público como: "Publicidade a álcool pode 'empurrar' jovens a beber", no entanto, depois de ler o artigo parece que a principal conclusão de Lesley Smith e David Foxcroft é a dificuldade em associar a publicidade ao consumo de álcool. De um universo de 115 artigos potencialmente relevantes só 7 encaixaram nos critérios definidos para análise. Mesmo estes 7 estudos não deixam clara a relação entre a publicidade e consumo de álcool - são
muitas as variáveis que influenciam o nosso comportamento e é díficil manter o controlo sobre as variáveis.


Por mais evidente que pareça a influência da publicidade e marketing no consumo de álcool, tudo indica que ainda não é possível prová-lo cientificamente de modo inequívoco...

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Álcool em números

O Plano Nacional para a Redução dos Problemas Ligados ao Álcool está deste dia 9 de Fevereiro em discussão pública.


Um artigo do Público dá conta de alguns dos números em discussão neste plano:




. o "binge drinking" - consumo de grande quantidade de álcool numa determinada ocasião, é responsável por 27 000 mortes acidentais e 10 000 suícidios, por ano, na Europa.





. 25 milhões de europeus têm como padrão habitual de consumo o "binge drinking" e 80 milhões praticam-no pelo menos uma vez por semana.

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o álcool causa no geral 195 000 mortes na Europa, sendo a faixa etária 15-29 a mais afectada .

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4 /10 assassínios e mortes violentas estão relacionadas com álcool.

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1/ 6 suícidios está relacionado com o álcool.

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1/3 acidentes rodoviários está relacionado com o álcool.





. A Europa é a zona do mundo com consumo mais elevado de álcool, 11 litros per capita.

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5 a 9 milhões de crianças na UE vivem em lares afectados pelo álcool, e 16% dos casos de abuso infantil e negligência são causados pelo álcool.

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06 fevereiro 2009

LSD



Talvez por não ter um consumo muito expressivo, pouco se sabe sobre os mecanismo de acção deste alucinogéno no cérebro.

Tradicionalmente, e como resultado da investigação produzida sobretudo na década de 90, a acção do LSD é ligada apenas aos receptores serotoninérgicos, tal como é mostrado, por exemplo, aqui (rato branco sentado no chão...).
No entanto, basta comparar as características do consumo de Ecstasy (que se sabe actuar de forma preponderante no sistema serotoninérgico) com as características do consumo de LSD, para perceber que algo está mal explicado.

Apesar de haver um número muito reduzido de estudos recentes sobre esta droga, hoje já está demonstrado que o LSD actua inicialmente nos receptores de serotonina, mas que a sua acção se entende depois aos receptores dopaminérgicos e também de glutamato, o que ajuda a explicar as alterações na percepção sensorial induzidas pelo consumo.

Ainda assim, muito há por esclarecer sobre LSD! por exemplo, é claro, para muito investigadores, que a acção do LSD terá de passar pelo tálamo, uma região do cérebro que "gere" a distribuição da informação sensorial a diferentes áreas do córtex , para que seja processada e interpretada; e como tal, está necessariamente envolvida nas alucinações produzidas pelo consumo de LSD.